sexta-feira, 13 de junho de 2008

“O amor a minha querida UnB eu quero declarar. Eu ajudei a construir a universidade”.

Líder de movimentos estudantis da UnB na década de 60, José Prates fala sobre sua atuação na Feub e o pensamento dos jovens da época

Por ser a capital do país, centro da tomada de decisões e de manifestações artísticas, culturais e políticas, Brasília é o cenário perfeito de intelectuais. Por isso, vários deles migraram para a cidade na década de 60, após a construção da Universidade de Brasília (UnB), que representava um modelo avançado de organização universitária para a época.
Porém, durante a Ditadura Militar, instalou-se na universidade um modelo imposto pelos militares no poder, que substitui muitos professores por pessoas não qualificadas para ministrar aulas. Esse fato motivou, inicialmente, o protesto de movimentos estudantis que, logo após, perceberam que o que estava ocorrendo era algo muito mais grave, de proporção nacional. Era o golpe militar de 1964.
Nesse contexto, surgiram alguns heróis, líderes de movimentos estudantis que defendiam uma causa, e, se fosse preciso, morreriam por ela. Um exemplo desses jovens da época que fizeram história é José Antônio Prates. O atual prefeito do município de Salinas (MG), preso por duas vezes durante o regime militar e por várias vezes torturado, foi líder de movimentos estudantis na UnB, integrante da Organização Política Operária (Polop) e presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (FEUB). Em uma visita à Brasília, José Prates recebeu, com muita simpatia, essa estudante que vos escreve, para uma entrevista.

O que era a Polop?
A Polop era uma organização de vanguarda, baseada na tese de Rosa Luxemburgo. Isto é, teses marxistas-leninistas.

Onde os estudantes se reuniam?
Nos reuníamos livremente em sala de aula, depois do horário letivo, ou na sala de professores que eram simpatizantes ou militantes das correntes. Após o Ato Institucional n º 5, a comunicação era feita através de aparelhos clandestinos.

Como surgiram os movimentos estudantis da UnB?
Em um primeiro momento, os movimentos surgiram para defender a universidade, que para nós era um modelo revolucionário. Como estava sendo implantado o modelo da ditadura, muitos professores foram substituídos por professores que não exerciam a profissão, ou que nem eram professores de verdade. Eram burocratas ou empregados de ministérios, alguns relacionados aos militares da época. Com isso, a qualidade do ensino caiu nitidamente.
No curso dos acontecimentos, as pessoas foram tomando consciência de que tinha uma coisa muito mais grave acontecendo com o Brasil todo. Aí éramos recrutados e procurávamos as lideranças das universidades, quase todas agregadas em partidos políticos, até para sobreviver politicamente. A partir disso, se formou um movimento mais amplo contra a ditadura e pela redemocratização do país. O engajamento de muitos nós em correntes políticas, quase todos com afinidade pela tese marxista-leninista com suas variações independentes.

Quem foram os heróis da época?
O movimento estudantil como um todo, e o povo. Mas tivemos os mártires. Entre eles, Paulo de Tarso Celestino e Honestino Guimarães, que, embora não tenham morrido, sofreram na prisão e no exílio. Dois grandes amigos, companheiros de luta. Embora tivéssemos divergências, pois haviam várias organizações que competiam pelo controle do movimento de massa, na hora do enfrentamento da Ditadura, nos uníamos. Paulo de Tarso foi um grande dirigente de massas, pelo partido comunista brasileiro. Honestino era da ação popular e, mais tarde, de uma organização afirmativa-leninista. Eles formaram uma corrente muito significativa.

Conte um pouco sobre o movimento “Queremos formação e não formatura”
Foi o maior movimento que teve dentro da UnB, onde liderei o fechamento do Instituto de Ciências e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Era um protesto contra o modelo que havia sido implantado, que era o da ditadura, com seus professores. Claro que a gente aumentava um pouco também, a realidade era construída tanto da verdade quanto da nossa imaginação. Queríamos a saída de todos os professores, e que os substitutos fossem escolhidos por nós. A ex miss Brasil da época, Marta Vasconcellos, representou-me no Encontro Nacional da faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Eneau), pois eu me encontrava preso. Eu era o presidente, a Marta Vasconcellos era uma das delegadas ao encontro,ela também fazia arquitetura na UnB. Aliás, a Marta era a parte romântica da história. Dona de uma beleza estonteante e muito simples, desfilava em seu jeep, deixando todos os homens admirados. Quando a polícia invadiu a universidade, ela chorou muito. Até aquele momento o Brasil sofria uma repressão tolerável do ponto de vista físico, não era aquela repressão cruel, que foi a partir do AI-5.

Porque a Faculdade de arquitetura foi a mais perseguida?
Porque eles entendiam que ali estava o núcleo mais forte da resistência, os órgãos de segurança e de inteligência da repressão. Havia um grande movimento de massa, o que tornava o confronto muito maior do que se fosse apenas contra o movimento clandestino de lideranças que controlavam os aparelhos.

Fale um pouco da experiência da prisão.
A tortura é um instrumento de desfazimento psicológico, para obrigar a pessoa a falar coisas que fez ou que não fez, entregar nomes, planos, lugares. Em geral a gente não entregava. Quando a Dilma Roussef respondeu ao Agripino que diante da tortura não há verdade, ela expressou o sentimento de todos nós naquela época. O mais importante que a gente tinha que fazer era resistir o máximo possível para salvar a vida dos companheiros.
Buscava encontrar alguma coisa para fazer na prisão, para não enlouquecer. Até mesmo brincar de adivinhar o sexo do mosquito que passava. Quando era submetido a tortura corporal, imaginava que aquilo não destrói o mais importante: sua essência, sua alma, sua causa.

O senhor viu algum companheiro ser assassinado?
Não. Vi muitos sumirem. Mesmo depois de terminado o processo investigativo, os militares ainda torturavam. Em Juiz de Fora havia o que se chamava de Festa, a última sessão de pancadaria. Um militar dava um tapa no rosto, outro chutava, fazia xixi na pessoa. Mas não posso dizer que só houve isso dentro da prisão, houve momentos em que fui bem tratado. Um professor aposentado da UnB, que é deputado federal hoje, foi tomar meu depoimento sobre o artigo 477, que perseguia as lideranças. Só faltava o meu depoimento e respondi que o meu iria ficar faltando. Quando ele saiu, o coronel do quartel em que eu estava preso me disse que não concordava com o que nós (militantes contra a ditadura) fazíamos, mas que admirava minha coragem e não concordava com um professor fazer aquele papel, que deveria ser apenas da polícia. O professor cometeu um papel de policialismo que não é digno de uma pessoa universitária.

Algum militar que tentou apoiar a causa?
A corrente do general Albuquerque Lima, que foi quem criou o Integrar para não entregar, um dos animadores do projeto Rondon, tinha seus aliados. Muitas vezes recebi a visita de um capitão, que confessava não ser comunista, mas naquele momento toparia uma aliança de forças que eram nacionalistas, democráticas ou anti-imperialistas. Isso houve muito. Mas, não sei por preconceito, autenticidade ou pureza, nunca aceitamos. Embora pudesse ser correto.

Quais lembranças o senhor tem sobre a passeata na avenida W3 após a morte de Edson Luís?
Eu ajudei a fazer a passeata. Foi muito bonita e deu-se até o cinema da Asa Sul. As únicas pessoas que falaram foi Mário Covas, que era deputado, Honestino e eu. Durante o protesto, soltei: Vocês são fortes, tem armas. Mas se são tão fortes, porque não abrem as urnas? Fui muito criticado por isso. As pessoas falavam que não era período de eleições, que o protesto era para derrubar a ditadura. Mas eu tinha uma maneira própria de pensar, e coloquei que seria importante abrir as urnas, porque todo espaço que desse para a gente reconquistar a redemocratização, tinha que ser ampliado e apoiado.
Quando foi decretado o AI-5 estávamos fazendo campanha pelo boicote ao vestibular. Conseguimos fazê-lo durante 14 dias. Os estudantes não faziam as inscrições.

Como o senhor avalia a imprensa local da época?
A imprensa era extremamente censurada, mas toda brecha que tinha, era dado como certo que haveria notícia. Mas aí a repressão fechava por um tempo o jornal, prendia os jornalistas. Ari Cunha é um jornalista que defendeu a liberdade democrática. Quando o embaixador americano foi visitar a universidade, estendi uma faixa: Ianc, fora do Vietnã. Essa atitude fez recandescer o movimento estudantil, que estava meio morno. Nesse dia, levaram mais de 300 pessoas presas. Um jornalista da TV Brasília filmou e exibiu, com autorização de Ari Cunha. Além disso, ele escreveu em sua coluna um protesto contra a brutalidade, e pressionou para a nossa saída da prisão. Mas aquilo foi antes do AI-5, dois anos depois aquilo seria absolutamente improvável.

O professor Roman Blanc era considerado um espião. O que o senhor tem a dizer?
Dizem que sim. A gente deu um prazo para ele ir embora, e, finalizado, o tiramos de lá.
Várias vezes dávamos prazos para a pessoa ir embora. Às vezes éramos injustos, pois na época era muito difícil distinguir.
A juventude tem nas mãos a bandeira da libertação, mas não pode astiá-la sozinha. Temos nas mãos um ideal, uma causa, e não uma arma. No meu período de exílio vi muita injustiça praticada entre os jovens. Grande parte porque a gente não soube cuidar, se expôs muito cedo.

A ocupação da UnB em abril desse ano relembrou os “anos de ouro”?
Cada época tem sua identidade. Estou solidário com as lutas da juventude, mesmo quando eles erram. Quem é que não erra? Se os estudantes ocuparam a sede da UnB, posso fazer restrições a um constrangimento ao ser humano, mas quanto a legitimidade da necessidade daquele ato não vou contestar. O importante é que hoje levantemos a bandeira da democracia, para que ela exista verdadeiramente no Brasil. Para que ela abra espaço para uma pluralidade de opiniões, e que a vida prevaleça. Como nós estamos em um regime democrático imperfeito, que essa liberdade não possa ser confundida com propriedade, por exemplo, de um meio de comunicação, para constranger sem a possibilidade de defesa. Quando você é torturado e humilhado, é uma covardia muito grande. Mas a mesma covardia é de um meio de comunicação, que ataca uma pessoa ou fala uma coisa que ela não cometeu, e não dá a oportunidade dela explicar. Vira um linchamento, e isso é inaceitável. Como não podemos aceitar que pessoas se filiem à determinada organização, não podemos aceitar que os donos dos jornais imponham sua opinião aos jornalistas. Agora temos que ampliar e fortalecer o espaço democrático.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

1968: O ano que não acabou?

O ano de 1968 foi marcado por uma insatisfação coletiva mundial, principalmente na área política, que resultou em uma revolução na cultura, nas artes e no comportamento. As pessoas sentiram necessidade de protestar contra os acontecimentos que se arrastavam ao longo da década e reconstruir o cenário, com novas ideologias. Assim, 1968 se transformou no ano dos heróis.
A visibilidade na imprensa que ganhou a guerra injusta dos Estados Unidos contra o Vietnã, que mostrava o exército esmagador americano matando a sangue frio milhões de vietnamitas, entre eles mulheres e crianças, fez com que os americanos se revoltassem contra o governo, a ponto de jovens em idade de se alistar para o serviço militar fugissem. Isso fez com que outras pessoas, revoltadas por acontecimentos isolados que ocorriam no mundo, se espelhassem nesse acontecimento e saíssem às ruas para dar voz ao seu pensamento.
No Brasil, após o golpe de Estado que tirou João Goulart do poder, se implantou a Ditadura Militar e com ela a censura à imprensa, a perseguição àqueles que eram contrários ao governo e até a morte, os exílios políticos e o fechamento de jornais. Em 1968, com o assassinato do estudante Edson Luís, foi a gota d’àgua. O crime chocou os lares de todo o país, que saíram em passeata, que ficou conhecida como a Passeata dos 100 mil.
A insatisfação política global fez com que, principalmente os jovens e estudantes da época, se voltassem contra qualquer figura que representasse autoridade. Afamou-se a frase “É proibido proibir”. Surgiram então, correntes políticas como o anarquismo, que contestava qualquer forma de Estado.
A revolução também fez-se sentir no comportamento, como exemplo disso, o movimento “hippie”. Eles tinham sua própria filosofia, que era de uma vida desligada do materialismo imposto pelo sistema e seu slogan era: Sexo, drogas e rock n’roll. Usavam roupas largas, não tomavam banho freqüentemente, tinham cabelos compridos e os homens barba grande. Eram desprovidos de pudor em relação a sexo e possuíam o necessário para sua sobrevivência. Muitos desses jovens eram originários da classe média.
O invento da pílula anticoncepcional em uma época em que a Aids ainda não era conhecida, resultou em uma revolução sexual. Sem o peso de saber que uma relação sexual acarretaria em uma gravidez, houve uma liberação sexual. Sem a obrigação das mulheres de se tornarem donas-de-casa e mães, elas passaram a querer ocupar espaços que eram tipicamente masculinos. Manifestações feministas a favor de um tratamento igualitário entre homens e mulheres tomaram conta do cenário. Por exemplo, a queima de sutiãs em praça pública por milhares de mulheres em Atlantic City. Atos como esse trouxeram várias conquistas, como leis que protegem a mulher. Tão marcante foi, que virou data comemorativa.
Além dessas mudanças, não poderia faltar a ocorrida na cultura. Movimentos como o Tropicalismo, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, deixaram sua marca na história brasileira. Um misto de vanguarda brasileira com pop rock estrangeiro. Muitas músicas que marcaram essa época cantamos ainda hoje, inconscientemente, embaladas por um ritmo diferente. Também houve manifestação do movimento nas artes plásticas e no teatro, como na peça teatral “Roda Viva”, com Marília Pêra. A atriz, que era a protagonista, foi presa porque a obra era um protesto contra a situação do país.
Após quase duas décadas de derramamento de sangue, a mobilização da sociedade, de pessoas civis e de artistas, que resultou no movimento conhecido como “Diretas Já”, que exigia eleições diretas para Presidente, não era mais possível sustentar uma ditadura. Então, uma nova Constituição foi criada, à luz da Democracia.
Zuenir Ventura, assim como outros autores, costuma dizer que o ano de 1968 não acabou. Porém, os jovens de hoje não têm a mesma consciência política e muito menos aquela ânsia de revolução que movia aquela geração. Ela se perdeu grande parte pela transição de sistema político. Com a democracia e conseqüentemente o fim das repressões, podemos gritar aos quatro ventos nosso pensamento. Ninguém será condenado por causa disso. A própria imprensa, com todos os seus avanços tecnológicos, não permitiria. Então, perdeu-se a necessidade de “morrer em favor da causa”. Perdeu-se o brilho, o espírito político e revolucionário. Os estudantes de hoje acostumaram-se a engolir calados tudo que lhes é embutido ouvidos adentro. A Constituição mudou, deu maiores poderes ao cidadão, mas problemas políticos e outros meios de censura existem e não são fortemente combatidos pela sociedade e principalmente pelos estudantes, que deveriam ser os grandes motivadores das mudanças do país. Somos preguiçosos, raramente saímos às ruas em luta pelos nossos ideais. Falta à nossa geração, heróis como antigamente.

Igual sardinha




Em busca de melhores condições de vida, migrantes aglomeram-se no plano-piloto

Brasília é a cidade do Distrito Federal com maior número de moradias improvisadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na época da construção da cidade, muitas pessoas de todos os cantos do país foram atraídos em busca de oportunidade de emprego. Incentivos do governo como entrega de lotes e vagas de emprego, facilitavam com que o migrante pudesse morar no plano-piloto. Atualmente, com o valor alto dos aluguéis, a opção do novo migrante é concentrar-se nas cidades-satélites, ou morar em quitinetes no plano-piloto.

Com a grande procura, os proprietários fazem das salas comerciais residência, transformando as avenidas W3 Norte e Sul em grandes aglomerados de gente, como podemos perceber pelos varais à mostra nas varandas. Somente em um bloco na Asa Norte, são mais de 32 quitinetes. Em cada uma moram cerca de três a quatro inquilinos, afirma o administrador dos imóveis, Arnaldo Pereira.

Os migrantes que preferem vir para o plano-piloto, normalmente optam por um menor conforto, principalmente no que diz respeito a espaço, em prol da proximidade do emprego, da escola e das oportunidades. Além disso, o custo da passagem para as cidades-satélites e a precariedade do serviço de transporte público, são outros fatores.

As pessoas convivem com a falta de espaço, como é o caso da família de Ângela Gomes, que saiu do Piauí em busca de melhores condições de vida para seus filhos. Inicialmente, Ângela foi morar no Núcleo Bandeirante, depois, ela e suas irmãs, Maria e Flávia, decidiram mudar-se para o plano-piloto e dividir o aluguel. Para poder pagar o custo de vida alto do plano piloto, Ângela desdobra-se com o trabalho de massagista e as tarefas de mãe e dona de casa. Flávia trabalha como manicure e Maria divide-se entre estágio, o trabalho no salão de beleza e a faculdade. A família teve que se adaptar com aos menos de 35 m², mas não reclama: “Aqui tem a facilidade de ficar mais próximo de tudo. Do emprego, da escola do meu filho e da faculdade da minha irmã”, afirma Ângela. Quem reclama apenas é Bismark, filho de Ângela, por causa da falta de espaço para brincar.

Também há muitas pessoas que trabalham o dia todo e optam por kit’s no subsolo. Como normalmente essas pessoas só voltam para casa para dormir, a falta de conforto, já que não há ventilação apropriada, não incomoda tanto. Luciano de Souza, 32 anos, mora em uma kit no subsolo, na Asa Norte. Na “cidade subterrânea”, como brincam os colegas, pois no mesmo bloco há mais nove quitinetes no subsolo, algumas com banheiro coletivo. Ele saiu de Ipujuca (PE), e veio para Brasília em busca de emprego. Luciano mora a dois anos na cidade e é sócio em uma loja de móveis, logo acima de sua quitinete.

No caso de estudantes, as opções mais baratas são as repúblicas ou vagas em casas de família. Esses lugares são ambientes familiares e os candidatos à vaga passam anteriormente por uma entrevista com o dono da casa ou da república.
A quadra 714 Sul, próxima à Unip, é uma das campeãs: em apenas uma rua, há uma república e quatro casas que alugam vagas para estudantes.

Rafael Borges saiu da cidade de Unaí (MG) e chegou a Brasília a quatro meses, em busca de trabalho. Ele conseguiu emprego em uma editora, mas inicialmente pagava muito caro morando sozinho em uma quitinete. Então, Rafael optou por uma das vaga em casa de família, oferecidas no jornal. Rafael diz que é muito bom ter encontrado a vaga onde mora atualmente, pois a dona da casa, uma senhora, o trata como um filho. Ele afirma que já morou com mais dois amigos em uma kit no subsolo, “Como homem é mais desleixado com a limpeza, a bagunça era grande. Agora estou no paraíso”.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Aprendizado dentro do hospital



Aulas ajudam na recuperação da saúde de crianças internadas

O projeto Classe Hospitalar, implantado pelo Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Especial, obriga todos os hospitais a terem profissionais de educação. O objetivo do projeto é fazer com que as crianças que estão internadas nos hospitais não se atrasem nos estudos.
No Hospital Universitário de Brasília (HUB), alunos de pedagogia da Universidade de Brasília (UnB) e de faculdades particulares cumprem estágio obrigatório, duas a três vezes por semana, acompanhando as crianças. Além disso, o hospital recebe alunos de psicologia, enfermagem e nutrição e voluntários.
Diariamente, o HUB conta também com as pedagogas Renata Oliveira e Adelina Droesher. Mais do que educadoras, elas assumem um pouco o papel de mãe das crianças, pois se envolvem e fazem de tudo para amenizar o sofrimento e ajudar na recuperação dos pequenos pacientes. Adelina é pedagoga da pediatria cirúrgica e orientadora educacional na área de educação especial. Renata é pedagoga da pediatria clínica.
O hospital atende pacientes de 0 a 16 anos, mas há pacientes que cresceram internadas, como crianças que têm câncer ou osteogênesis imperfecta (ossos de vidro). Nestes casos, eles permanecem lá até os 18 anos e alguns já estão até mesmo casados. Segundo Renata, o primeiro passo é avaliar a disposição do paciente. Quando a criança está muito debilitada são utilizados jogos pedagógicos, como o banco imobiliário, em que a criança aprende a fazer continhas, jogo da memória e de regiões do Brasil. Isto é, mesmo sem perceber, a criança aprende brincando.
Além das aulas de recuperação escolar, também há recreação, computador, festinhas e o projeto História Viva em Hospital. Através de livros que prendem a atenção com desenhos em auto-relevo e outros artifícios, as crianças interajem e se distraem, esquecendo da doença, afirma Renata. A maior parte dos brinquedos e livros são doados por voluntários, recrutados pelas pedagogas. A decoração dos quartos, que são pintados de rosa ou azul com faixas de bichinhos foi pago com dinheiro do bolso das profissionais.
As dificuldades encontradas são o ambiente, pois as aulas são ministradas em uma sala que serve também para consultas e como refeitório. Outra dificuldade é que algumas escolas não mandam o dever de casa e o conteúdo que a criança deveria estar estudando, principalmente os de 5ª a 8ª séries. Ao contrário dos professores de 1ª a 4ª série, que fazem visitas aos alunos internos e trazem cartinhas dos colegas de turma.
O sonho das pedagogas é o término do Instituto Pediátrico, que está sendo construído dentro do hospital. O instituto vai contar com sala de aula, refeitório, brinquedoteca e consultório. Isso facilitará a rotina de horários, além de trazer maior conforto.

Espaço na Asa Norte combina gastronomia e arte

No café tudo está à venda, de esculturas a azulejos

Inaugurado em agosto de 2006, o “Arte Café”, localizado na 116 Norte, traz algo inovador. O café combina gastronomia e galeria, composta por obras da escultora Deise Pedreira, dona do Café, e de artistas de várias partes do país, principalmente norte e nordeste. No local tudo está à venda, de esculturas a cadeiras, mesas, cinzeiros, luminárias, armários, espelhos e azulejos.

Deise Pedreira vem de uma família de artistas, seu pai é escultor e tem uma galeria em Salvador, sua mãe é artista plástica e seu irmão também é escultor, e, inclusive, trabalha no café. Tudo impressiona: a decoração, as esculturas e a iluminação que cria um ambiente aconchegante, efeito das velas em cada mesa e das várias luminárias espalhadas pelo local, sob paredes de papel marchê.

Além disso, o café oferece música ao vivo, de quinta a domingo. O repertório é composto principalmente de blues, jazz e música popular brasileira. Os músicos normalmente são da Academia de Música e o couvert é acessível: R$6,00. O último Festival Mix de Brasília foi encerrado no local, com a presença de artistas que expuseram suas obras. E para os amantes de poesia, o bar promove sarau. O próximo está previsto para abril.

A especialidade da casa são as panquecas, que custam de R$9,90 a R$ 16,80 a de bacalhau. Outro forte da casa é a brusqueta: quatro fatias de filão de sêmula, um pão, recheados ao forno e que custa de R$11,30 a R$13,80. Para os amantes da cerveja, a longneck varia de R$2,90 a R$ 4,00. Também há camarão, bacalhau e a porção de carne de sol com mandioca, um dos pratos mais requisitados ao preço de R$15;20, para duas pessoas. O cardápio também é criativo, composto de poesias como: “Era-nos oferecido um creme de chocolate, inspiração e atenção pessoal de Francisca, fugaz e livre como uma obra de circunstância onde ela pusera todo o seu talento” (Marcel Proust).
“O lugar está cada vez menor para tantos freqüentadores, por isso estou com um projeto de inaugurar mais um café na Asa Sul, porém, ainda não há data prevista”, afirma Deise Pedrosa.

Cérebro brasiliense na neurociência


Sidarta Ribeiro, que ganhou projeção no exterior, hoje é um dos mais reconhecidos cientistas do mundo

O neurologista Sidarta Ribeiro, 35 anos, voltou ao Brasil após experiência de cinco anos em um dos mais importantes laboratórios do mundo, o “Nicolelis Lab", do Departamento de Neurobiologia da Universidade de Duke, em Durham (EUA), para dirigir o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS).

Formado em biologia na Universidade de Brasília (UnB), com mestrado em biofísica na
Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado em neurobiologia cognitiva molecular pela Universidade Rockefeller, na Carolina do Norte (EUA), ele afirma que o Brasil tem muito que crescer na área de neurociência.
Sua paixão pela neurociência surgiu no final do curso de Biologia, na UnB. Ele afirma que a experiência na UnB foi maravilhosa: “Me deu régua e compasso”. Lá, realizou suas primeiras pesquisas sobre mente e memória, mapeando regiões de cérebros de pássaros ativadas por cantos.

O Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN-ELS) foi inaugurado oficialmente no dia 23 de fevereiro, mas opera em regime experimental desde o início de 2006. O instituto nasceu da vontade de três cientistas brasileiros expatriados: Sidarta Ribeiro, Miguel Nicolelis e Cláudio Mello. Os pesquisadores tinham um sonho em comum: fazer com que a neurociência ganhasse espaço e, ainda, passasse a fomentar o desenvolvimento social de regiões carentes do país onde nasceram. O IINN-ELS realiza uma ação conjunta entre desenvolvimento tecnológico e social. A começar pela localização do instituto, que foge do eixo Rio - São Paulo.

O sonho começou a transformar-se em realidade com a inauguração do primeiro pólo de neurociência, em Natal. Através dele, jovens e crianças tomam gosto pela neurociência. O projeto-piloto começou em janeiro de 2006 com a educação científica de 150 crianças, na pequena Macaíba, e agora está sendo iniciado um projeto com 250 crianças em Natal e outras 300 em Macaíba. A localização do segundo pólo está projetada para localizar-se no estado do Piauí, e outros devem ser criados em regiões carentes do norte, nordeste e centro-oeste, disse o pesquisador.

O cientista afirma que está sendo desenvolvida, no centro de pesquisas, a biocompatibilidade de eletrodos. Eles são implantados em cérebros de ratos e é verificado quais tipos de eletrodos causam menos problemas. A resposta inflamatória foi menor do que a prevista. Essa descoberta possibilita movimentar próteses, por exemplo.

Outra pesquisa importante é a da relação da memória com o sono. Segundo Sidarta, a memória fica guardada no nosso cérebro, e é ativada enquanto dormimos. Enquanto estamos acordados, muitas coisas competem com nossa memória, por isso as lembranças vêem melhor à nossa mente durante o sono. Essa pesquisa pode contribuir no avanço contra doenças neurológicas.

Sidarta conta que a experiência no instituto tem sido fantástica e ao mesmo tempo difícil, mas vale a pena. O instituto vem colhendo frutos e pode-se perceber uma mudança comportamental positiva nas crianças que participam da iniciação científica. Quem sabe são estas crianças a futura geração de cientistas do Brasil? Sidarta Ribeiro acredita que sim.

O rádio como veículo de massa

Em 1895, o cientista Guglielmo Marconi descobriu que ondas de Hertz poderiam transmitir mensagens. Talvez ele não imaginasse na época, que sua invenção se tornaria um dos maiores veículos de comunicação de massa: o rádio. Orson Welles provou a capacidade de influência desse veículo, ainda na década de 30, ao fazer com que milhões de pessoas ficassem desesperadas para sair dos Estados Unidos achando que extraterrestres estavam invadindo a terra. Na verdade, tratava-se de uma peça teatral, intitulada “A guerra dos mundos”.
Welles escolheu um dia atípico para colocar no ar sua peça teatral. Era 30 de outubro de 1931 e o mundo aguardava a notícia se o país iria entrar em guerra ou não. Além disso, no dia 30 de outubro os americanos comemoram o halloween. Para que o ouvinte não imaginasse ser uma obra de ficção, falsas notícias interrompiam a programação normal da rádio Columbia Broadcasting System (CBS), até que fosse transmitida em tempo integral.
Trinta e três anos depois, em São Luís (MA), o locutor Sérgio Brito resolveu imitar a façanha de Welles. Até mesmo o dia e o mês escolhidos foram iguais. O contexto da época (1971), também era de instabilidade política, pois o país vivia a ditadura militar. A versão maranhense da peça exagerou ainda mais: a invasão alienígena estava ocorrendo em vários países, anunciando o fim dos tempos. Na época, os roteiros dos programas deviam passar primeiro pela polícia federal, que liberou para que este fosse colocado no ar. Esse cuidado porém, não evitou que a rádio fosse fechada. A penalidade não foi maior porque a equipe da rádio apresentou uma falsa edição que continha o seguinte spot: “Ficção científica baseada em Orson Welles”.
No primeiro caso, Welles confessou, anos mais tarde, que o programa não teria ido ao ar de forma inocente. Em entrevista à BBC, ele declarou: “O mundo lhes parecia ser alimentado por tudo que sai daquela caixa mágica. A transmissão era um assalto à credibilidade daquela máquina e um alerta para que as pessoas deixassem de se orientar por opiniões pré-formatadas, viessem elas do rádio ou não”. No caso da rádio difusora o programa serviu para testar a audiência do rádio, que vinha perdendo público para a televisão.
Nos dois exemplos, ficou provada a eficiência do rádio. Ele é um veículo de fácil acesso, pois é barato. A maior parte da população tem condições de comprar, nem que seja, um radinho de pilha. Muitas cidades pequenas não possuem um jornal impresso ou um programa de televisão local, mas possuem uma rádio comunitária. Ele também é o veículo que maior interage com o público final, pois dá espaço para que o ouvinte participe, ao vivo.

O preço de uma verdade

Nós, como estudantes de jornalismo, devemos compreender o importante papel que nosso trabalho irá ter na sociedade. A imprensa, ou o “quarto poder”, como definem algumas teorias, é uma poderosa ferramenta na construção de opiniões. E, como conseqüência, nas tranformações sociais. Ela pode provocar impeachments, causar revoluções ou até mesmo resultar em guerras. Portanto, deve ser utilizada seguindo a responsabilidade ética. O verdadeiro jornalismo é baseado na verdade, na apuração dos fatos, na imparcialidade e na amostra dos dois lados da notícia. A credibilidade do jornalista deve estar sempre acima de suspeitas.
O filme “O preço de uma verdade”, baseado em uma história real, nos mostra claramente o que não devemos fazer no jornalismo. Conta a história de um jovem que sonhava ser jornalista, trabalhar em grandes veículos de comunicação, ser conhecido e admirado. E conseguiu. Stephen Glass se transformou em um conceituado jornalista da revista The New Republic. Glass escrevia artigos sobre coisas cotidianas, fatos curiosos e engraçados sobre os quais as pessoas se interessam. Era um rapaz cordial, que gostava de agradar os colegas e adquiriu a admiração de todos. Os artigos de Glass eram sempre os melhores, o que despertava até mesmo ciúmes em seu ambiente de trabalho. A apresentação de suas pautas era sempre feita de uma forma dinâmica e que prendia a atenção. Por isso, outros jornalistas sentiam-se constrangidos por não conseguir superá-las. Um dos seus mais famosos artigos, o “Paraísos dos Hackers”, contava a história de um hacker adolescente que descobriu como entrar no sistema de uma grande empresa. A empresa, sentindo-se intimidada, contratou e aceitou todas as exigências do invasor.
A carreira de Glass ia muito bem, até ser desmascarado por Alan Penemberg, um jornalista da revista Forbes. Ele descobriu que o artigo fora inventado. Glass ainda tentou inventar uma empresa, criando um falso site. Também pediu para seu irmão se passar pelo suposto hacker pelo telefone, para tentar encobrir a mentira. Após várias contradições, o editor-chefe da The New Republic, Chuck Lane, decidiu investigar todos os 47 artigos escritos por Glass. Descobriu que havia mais textos que não eram verdadeiros. Glass confessou que 21 dos artigos escritos por ele eram pura ficção. A revista publicou uma nota se desculpando pelo caso e demitiu Glass. Hoje, dificilmente algum veículo de comunicação o contrataria.
Glass dizia que o jornalismo é a arte de captar o comportamento das pessoas, porém, esqueceu de analisar o seu próprio comportamento.

Ética e responsabilidade social

O bom jornalismo é baseado na ética e na responsabilidade social. O jornalista deve ter consciência do seu papel na sociedade, como formador de opinião. Por isso, deve ser o mais claro, objetivo e imparcial possível. Sabemos que, atualmente, essa tarefa encontra muitos obstáculos. Após a revolução industrial, o avanço da tecnologia proporcionou um ambiente para que o jornal fosse distribuído em larga escala. O jornal tornou-se uma empresa, voltada ao lucro. Empresários e políticos passaram a enxergar nele uma janela para seus interesses.
A revista “Veja” freqüentemente é questionada por causa de matérias suspeitas, manipulação de declarações de fontes e a visível “marketinização” de suas notícias. Com a desculpa da liberdade de imprensa, ataca todos que sejam contra os seus interesses, assassinando reputações. Aceita, sem questionar, dossiês preparados por lobistas. O publicitário Eduardo Fisher, que fez a campanha da Schincariol, aquela do “experimenta, experimenta”, utilizou-a como arma contra a guerra dos empresários, donos de cervejarias. A revista fez ataques gratuitos e sem fundamento contra as empresas concorrentes.
Outro exemplo de falta de ética ocorreu durante o debate eleitoral entre Luíz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, em 1989. A Rede Globo de Televisão, que transimitia o debate, deixou claro seu posicionamento político, ao dar mais espaço para que Collor falasse e cortando algumas falas de Lula. Então, nos perguntamos: Qual será o futuro do jornalismo? Será que precisaremos de um meio que fiscalize o próprio trabalho da imprensa de fiscalizar as irregularidades? Talvez seja necessário um quinto poder...