sexta-feira, 6 de junho de 2008

1968: O ano que não acabou?

O ano de 1968 foi marcado por uma insatisfação coletiva mundial, principalmente na área política, que resultou em uma revolução na cultura, nas artes e no comportamento. As pessoas sentiram necessidade de protestar contra os acontecimentos que se arrastavam ao longo da década e reconstruir o cenário, com novas ideologias. Assim, 1968 se transformou no ano dos heróis.
A visibilidade na imprensa que ganhou a guerra injusta dos Estados Unidos contra o Vietnã, que mostrava o exército esmagador americano matando a sangue frio milhões de vietnamitas, entre eles mulheres e crianças, fez com que os americanos se revoltassem contra o governo, a ponto de jovens em idade de se alistar para o serviço militar fugissem. Isso fez com que outras pessoas, revoltadas por acontecimentos isolados que ocorriam no mundo, se espelhassem nesse acontecimento e saíssem às ruas para dar voz ao seu pensamento.
No Brasil, após o golpe de Estado que tirou João Goulart do poder, se implantou a Ditadura Militar e com ela a censura à imprensa, a perseguição àqueles que eram contrários ao governo e até a morte, os exílios políticos e o fechamento de jornais. Em 1968, com o assassinato do estudante Edson Luís, foi a gota d’àgua. O crime chocou os lares de todo o país, que saíram em passeata, que ficou conhecida como a Passeata dos 100 mil.
A insatisfação política global fez com que, principalmente os jovens e estudantes da época, se voltassem contra qualquer figura que representasse autoridade. Afamou-se a frase “É proibido proibir”. Surgiram então, correntes políticas como o anarquismo, que contestava qualquer forma de Estado.
A revolução também fez-se sentir no comportamento, como exemplo disso, o movimento “hippie”. Eles tinham sua própria filosofia, que era de uma vida desligada do materialismo imposto pelo sistema e seu slogan era: Sexo, drogas e rock n’roll. Usavam roupas largas, não tomavam banho freqüentemente, tinham cabelos compridos e os homens barba grande. Eram desprovidos de pudor em relação a sexo e possuíam o necessário para sua sobrevivência. Muitos desses jovens eram originários da classe média.
O invento da pílula anticoncepcional em uma época em que a Aids ainda não era conhecida, resultou em uma revolução sexual. Sem o peso de saber que uma relação sexual acarretaria em uma gravidez, houve uma liberação sexual. Sem a obrigação das mulheres de se tornarem donas-de-casa e mães, elas passaram a querer ocupar espaços que eram tipicamente masculinos. Manifestações feministas a favor de um tratamento igualitário entre homens e mulheres tomaram conta do cenário. Por exemplo, a queima de sutiãs em praça pública por milhares de mulheres em Atlantic City. Atos como esse trouxeram várias conquistas, como leis que protegem a mulher. Tão marcante foi, que virou data comemorativa.
Além dessas mudanças, não poderia faltar a ocorrida na cultura. Movimentos como o Tropicalismo, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, deixaram sua marca na história brasileira. Um misto de vanguarda brasileira com pop rock estrangeiro. Muitas músicas que marcaram essa época cantamos ainda hoje, inconscientemente, embaladas por um ritmo diferente. Também houve manifestação do movimento nas artes plásticas e no teatro, como na peça teatral “Roda Viva”, com Marília Pêra. A atriz, que era a protagonista, foi presa porque a obra era um protesto contra a situação do país.
Após quase duas décadas de derramamento de sangue, a mobilização da sociedade, de pessoas civis e de artistas, que resultou no movimento conhecido como “Diretas Já”, que exigia eleições diretas para Presidente, não era mais possível sustentar uma ditadura. Então, uma nova Constituição foi criada, à luz da Democracia.
Zuenir Ventura, assim como outros autores, costuma dizer que o ano de 1968 não acabou. Porém, os jovens de hoje não têm a mesma consciência política e muito menos aquela ânsia de revolução que movia aquela geração. Ela se perdeu grande parte pela transição de sistema político. Com a democracia e conseqüentemente o fim das repressões, podemos gritar aos quatro ventos nosso pensamento. Ninguém será condenado por causa disso. A própria imprensa, com todos os seus avanços tecnológicos, não permitiria. Então, perdeu-se a necessidade de “morrer em favor da causa”. Perdeu-se o brilho, o espírito político e revolucionário. Os estudantes de hoje acostumaram-se a engolir calados tudo que lhes é embutido ouvidos adentro. A Constituição mudou, deu maiores poderes ao cidadão, mas problemas políticos e outros meios de censura existem e não são fortemente combatidos pela sociedade e principalmente pelos estudantes, que deveriam ser os grandes motivadores das mudanças do país. Somos preguiçosos, raramente saímos às ruas em luta pelos nossos ideais. Falta à nossa geração, heróis como antigamente.

Um comentário:

jessica crisostomo disse...

estar por dentro desse assunto é ótimo pois pode provavelmente ser assunto de vestibular desse ano...