Em busca de melhores condições de vida, migrantes aglomeram-se no plano-piloto
Brasília é a cidade do Distrito Federal com maior número de moradias improvisadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na época da construção da cidade, muitas pessoas de todos os cantos do país foram atraídos em busca de oportunidade de emprego. Incentivos do governo como entrega de lotes e vagas de emprego, facilitavam com que o migrante pudesse morar no plano-piloto. Atualmente, com o valor alto dos aluguéis, a opção do novo migrante é concentrar-se nas cidades-satélites, ou morar em quitinetes no plano-piloto.
Com a grande procura, os proprietários fazem das salas comerciais residência, transformando as avenidas W3 Norte e Sul em grandes aglomerados de gente, como podemos perceber pelos varais à mostra nas varandas. Somente em um bloco na Asa Norte, são mais de 32 quitinetes. Em cada uma moram cerca de três a quatro inquilinos, afirma o administrador dos imóveis, Arnaldo Pereira.
Os migrantes que preferem vir para o plano-piloto, normalmente optam por um menor conforto, principalmente no que diz respeito a espaço, em prol da proximidade do emprego, da escola e das oportunidades. Além disso, o custo da passagem para as cidades-satélites e a precariedade do serviço de transporte público, são outros fatores.
As pessoas convivem com a falta de espaço, como é o caso da família de Ângela Gomes, que saiu do Piauí em busca de melhores condições de vida para seus filhos. Inicialmente, Ângela foi morar no Núcleo Bandeirante, depois, ela e suas irmãs, Maria e Flávia, decidiram mudar-se para o plano-piloto e dividir o aluguel. Para poder pagar o custo de vida alto do plano piloto, Ângela desdobra-se com o trabalho de massagista e as tarefas de mãe e dona de casa. Flávia trabalha como manicure e Maria divide-se entre estágio, o trabalho no salão de beleza e a faculdade. A família teve que se adaptar com aos menos de 35 m², mas não reclama: “Aqui tem a facilidade de ficar mais próximo de tudo. Do emprego, da escola do meu filho e da faculdade da minha irmã”, afirma Ângela. Quem reclama apenas é Bismark, filho de Ângela, por causa da falta de espaço para brincar.
Também há muitas pessoas que trabalham o dia todo e optam por kit’s no subsolo. Como normalmente essas pessoas só voltam para casa para dormir, a falta de conforto, já que não há ventilação apropriada, não incomoda tanto. Luciano de Souza, 32 anos, mora em uma kit no subsolo, na Asa Norte. Na “cidade subterrânea”, como brincam os colegas, pois no mesmo bloco há mais nove quitinetes no subsolo, algumas com banheiro coletivo. Ele saiu de Ipujuca (PE), e veio para Brasília em busca de emprego. Luciano mora a dois anos na cidade e é sócio em uma loja de móveis, logo acima de sua quitinete.
No caso de estudantes, as opções mais baratas são as repúblicas ou vagas em casas de família. Esses lugares são ambientes familiares e os candidatos à vaga passam anteriormente por uma entrevista com o dono da casa ou da república.
A quadra 714 Sul, próxima à Unip, é uma das campeãs: em apenas uma rua, há uma república e quatro casas que alugam vagas para estudantes.
Rafael Borges saiu da cidade de Unaí (MG) e chegou a Brasília a quatro meses, em busca de trabalho. Ele conseguiu emprego em uma editora, mas inicialmente pagava muito caro morando sozinho em uma quitinete. Então, Rafael optou por uma das vaga em casa de família, oferecidas no jornal. Rafael diz que é muito bom ter encontrado a vaga onde mora atualmente, pois a dona da casa, uma senhora, o trata como um filho. Ele afirma que já morou com mais dois amigos em uma kit no subsolo, “Como homem é mais desleixado com a limpeza, a bagunça era grande. Agora estou no paraíso”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário